Pesquisa mostra equilíbrio entre mulheres que empreendem por oportunidade

A empreendedora Maria Aparecida Damacena Aguilar Lima, de Itacaré
Maurício Maron

Um estudo realizado pelo Sebrae Bahia revela um equilíbrio entre as mulheres que empreendem por oportunidade e por necessidade. Do total de entrevistadas pela pesquisa, 25,67% responderam que tiveram oportunidade de trabalhar com carteira assinada, mas preferiram abrir o próprio negócio. Além disso, 12,67% afirmaram ter pedido desligamento de emprego com carteira assinada para empreender.

Do outro lado, 24,07% disseram ter sido desligadas de emprego com carteira assinada por parte do empregador e buscaram o empreendedorismo como alternativa de renda. Já 13,43% responderam que nunca tiveram oportunidade de trabalhar com carteira assinada.

Os dados levantados pelo Sebrae Bahia confirmam ainda uma tendência do crescimento do empreendedorismo feminino registrado em todo o mundo. Só na instituição, foram atendidas até maio de 2018, 93.315 mulheres empresárias ou potenciais empreendedoras

Em tempos que se discute a inclusão por diversas vias, o tema vem ganhando cada vez mais espaço nos debates que pautam a sociedade e, por isso, ganhou uma data global para ser celebrada em todo o mundo. A Organização das Nações Unidas estabeleceu 19 de novembro como o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino.

A data foi lançada em 2014, em Nova Iorque, durante a realização da Semana Global de Empreendedorismo. O dia marca o intuito de apoiar, empoderar e inspirar mulheres empreendedoras em todas as partes do mundo.

Mulheres conectadas

O estudo do Sebrae Bahia mostra ainda que as mulheres empreendedoras, seguindo também a tendência dos negócios em todo o mundo, estão cada vez mais conectadas às redes sociais. A pesquisa mostra 85,96% utiliza alguma rede para divulgar o seu negócio, prevalecendo o Instagram (37,27%), seguido pelo WhatsApp (32,16%) e Facebook (25,04%).

A facilidade, a agilidade e o amplo alcance das redes sociais justificam o uso dessas ferramentas por parte das mulheres empreendedoras baianas, já que o maior número (45,82%) está registrada como microempreendedora individual, e possuem estruturas de negócio mais enxutas. Logo em seguida, vem as donas de microempresas (24,32%) e, por fim, empresas de pequeno porte (7,75%).

A formalização é também considerado um ponto fundamental para as donas de pequenos negócios baianos. A pesquisa do Sebrae mostra que 77% possuem empreendimentos formais e, nesse total, 71% buscaram orientação para poderem se formalizar.

A pesquisa realizada pelo Sebrae Bahia ouviu 2.194 donas de pequenos negócios em toda a Bahia, em julho deste ano.

Inspiração

O Sebrae sempre desenvolveu ações de fomento ao empreendedorismo feminino. Um deles foi a realização do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios que, em diversas edições, destacou histórias de empreendedoras baianas. Uma delas é a de Maria de Fátima Paiva, presidente da cooperativa Repescar.

Após a conquista do prêmio, em 2016, a Cooperativa Repescar tem alçado voos mais altos com a ampliação do número de clientes tanto da iniciativa privada, quanto em prefeituras por todo o estado. A visibilidade alcançada com a premiação fez com que a entidade chamasse a atenção do Ministério do Desenvolvimento, viabilizando mais de R$ 2 milhões para a reforma e ampliação da estrutura da cooperativa, que possui 248 cooperados que fornecem os pescados, 20 funcionários na sede, atuando no beneficiamento dos produtos e na área administrativa, além dos técnicos em Veterinária e Engenharia de Pesca, por exemplo.

Também por conta da premiação, Maria de Fátima afirma que tem recebido solicitações de todo o Brasil para que representantes da entidade se apresente em eventos e mostre o trabalho realizado pela entidade, a exemplo da participação de cooperados em um evento na cidade de São Paulo (SP), nas últimas semanas.

Um outro ponto abordado pela presidente da entidade é o aumento da procura pelos produtos da cooperativa. Nos últimos anos, mais duas cidades baianas (Madre de Deus e Itaparica) fecharam contrato com a Repescar. “Para 2019, temos mais quatro municípios da Bahia interessados em nossos produtos, além de outros clientes de empresas privadas”, afirma a presidente.

Sobre as perspectivas para o próximo ano, Maria de Fátima declarou que pretende trabalhar junto ao Sebrae na qualificação de cooperados e funcionários da Repescar, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da entidade e das pessoas que compõem a cadeia produtiva.

Associativismo

Outra empreendedora agraciada com o Prêmio Mulher de Negócios foi a indígena Luena Maria Ferreira dos Santos, atual presidente da Associação de Pescadores Indígenas e Pataxós de Coroa Vermelha. Em 2014, ainda atuando como tesoureira, ela foi premiada pelo trabalho que realiza com gestão financeira de projetos de pesca na aldeia onde mora.

Quatro anos depois de receber o troféu, o trabalho com a pesca continua. Hoje ela recebe o camarão trazido pelo pescador e faz todo o processo de beneficiamento na associação, limpando, cortando e vendendo. “Estou trabalhando aqui para que mais mulheres também venham fazer esse beneficiamento com a gente. Se elas vierem trabalhar, terei toda energia para conseguir efetuar a venda. Não quero empreender sozinha, Meu sonho é ver as mulheres da minha comunidade juntas, lutando e vencendo”, explica.

Essa vontade de apoiar mulheres é forte em sua caminhada e agora, como presidente da associação, fez questão de montar sua equipe exclusivamente com mulheres. Ela tem muitos projetos em andamento, sempre com o pensamento no empoderamento feminino. “Depois de receber o prêmio do Sebrae, continuei estudando, fazendo cursos e buscando oportunidades. O que eu sempre digo para as mulheres é que temos muita força e somos capazes de conseguir o que quisermos. Não tem filho, marido ou compromisso nenhum que pode nos impedir de trabalhar e ter uma vida melhor, pra gente e pra nossa família”.

Luena espera que mais oportunidades possam surgir para toda a comunidade, que ainda precisa de apoio e incentivo. Para 2019, além de mais cursos, ela espera também que consigam realizar feiras na comunidade. Toda essa veia empreendedora não deixa de pensar no social, programando também atividades gratuitas para os moradores.

Qualificação

A empreendedora Maria Aparecida Damacena Aguilar Lima, de Itacaré, também foi contemplada com a etapa nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios de 2017, na categoria de Pequenos Negócios. E ela não parou de investir em qualificação dos seus empreendimentos. Com auxílio da consultoria Sebrae MEDE, a empresária conseguiu implementar 95% das ações diagnosticadas este ano na Pousada Pedra Torta e no Hotel Boutique Terra Boa. 

A partir de um acompanhamento especializado de consultores do Sebrae, a empresária declara que obteve melhorias principalmente, no controle de compras, finanças e no estoque das empresas. Segundo Aparecida, o resultado é “fruto de um trabalho em equipe, com acompanhamento, foco e determinação”. 

A empresária ainda renovou a certificação ISO 9001, responsável pelo controle de qualidade de empreendimentos, o plano de combate a incêndios, Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e de Controle Médico de Saúde – PPRA/PCMSO, além de outras ações em parceria com o Sebrae em Ilhéus.

Além de gestora das Pousadas Pedra torta e Vira Canoa, do Hotel Boutique Terra Boa e do Restaurante Terra Boa, Aparecida é presidente da Câmara de Turismo da Costa do Cacau.